A prática da
Caridade e a vida de entrega contínua dos que se propõem a servir na Religião
de Umbanda estão intimamente ligadas ao apelo do Mestre Jesus, considerado por
milhares de umbandistas como o Filho de Deus e sincretizado com o Pai Oxalá,
Orixá da Fé. O apelo de Jesus, ou o chamado do Mestre, encontra eco nas
palavras de milhares de Pretos Velhos e Vovós de Umbanda que, insistentemente,
incutem nos filhos de fé e nos seus consulentes as exortações à caridade, à paciência,
ao perdão e o amor ao próximo.
O Mestre da
Galiléia, apontado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas como modelo a ser
seguido pelos umbandistas, por vezes convocava os seus discípulos a entrarem
numa demanda missionária cujo propósito era o de mostrar-lhes pelo exemplo a
maneira correta de se posicionarem perante a multidão. Tais atitudes de Jesus
levavam os discípulos a repensarem suas tacanhas e preconceituosas maneiras de
ver o semelhante, já que todos haviam sido educados na radical tradição judaica.
Jesus trouxe
uma mensagem que traduziu-se como "A Verdade". Não era a
"sua" verdade, porém resumia o pensamento ancestral e milenar da
Espiritualidade Maior e apontava a direção certa a todos.
Simples,
Jesus fazia declarações arrebatadoras aos humildes e rudes homens do campo;
falava com impressionante veracidade a doutores e autoridades sacerdotais de
sua época e distinguia-se dos poderosos governantes pela sua maneira horizontal
de chefiar os seguidores.
Sem
ostentação e desprovido da insuportável vaidade humana, Jesus convidava os seus
discípulos e seguidores a tomarem para si os exemplos das figuras e símbolos
que recheavam suas mensagens compreensíveis até mesmo pelas criancinhas.
A Umbanda
tem nas mensagens de Jesus o convite ao exercício da Caridade, do amor
fraternal e do trabalho constante em favor dos aflitos. Foi assim que o Mestre
convocou os rudes pescadores, cobradores de impostos e preconceituosos
seguidores do judaísmo.
Grandes
prodígios Jesus fez na Galiléia, terra considerada pelos judeus como sendo o
local de homens pouco inteligentes e insubordinados. Jesus, apesar disso,
levava os discípulos a verdadeiras excursões pelas terras da Galiléia com o
propósito de ensinar-lhes algo que culminaria com a reflexão interior e com a
mudança de postura deles mesmos, como na vez em que chamou Filipe a seguí-lo:
“No outro dia, Jesus quis partir para a Galileia. Encontrou Felipe e lhe disse:
Segue-me” (Jo 1, 43).
Jesus passou
grande parte de sua vida na Galiléia, apesar de ter nascido na Judéia, terra
vizinha. Lá, ele cresceu e entrou na adolescência, por isso era chamado em tom
jocoso de "O Galileu". Geograficamente, a Galiléia é uma região de
montanhas e mostra-se como uma "encruzilhada" de caminhos entre o
Mediterrâneo e os desertos do rio Jordão. Foi também palco de grandes prodígios
que nos remetem à reflexão.
O umbandista
depara-se com muitas encruzilhadas! Vez por outra precisa decidir seu destino
na escolha de caminhos que o levam ao perdão ou ao orgulho; ao amor ou ao ódio;
à temperança ou à ira; às planícies fecundas da caridade ou aos desertos da
indiferença e do egoísmo.
A Galiléia
pode ser vista como o mundo em que vivem os Espíritos humanos que correm aos
terreiros em busca de socorro. Espíritos que normalmente são considerados de
pouca inteligência. Espíritos que, devido ao estágio em que se encontram estão
revoltosos e avessos aos mandamentos celestiais de amor e perdão.
Foi na
Galiléia que Jesus transformou a água em vinho! Fato que diz muito mais do que
uma simples demonstração mágica. Jesus mostra, através do tão famoso milagre
das bodas que o homem deve buscar incessantemente a mudança interior para que
seja agradável a todos os convidados da última hora.
O umbandista
de verdade deve realizar essa mudança constantemente, caso contrário os sábios
conselhos dos Pretos Velhos soarão como palavras vazias e sem vida. Sem mudança
interior, o umbandista permanecerá estagnado nos vasos de pedra da ignorância.
Na Galiléia
Jesus transfigurou-se perante os discípulos, o que nos remete novamente à
mudança constante. Desta vez, a mudança do umbandista é externa. Todos precisam
enxergar no filho de Umbanda, o novo homem, a nova criatura, o que nasceu de
novo. O rosto do umbandista deve resplandecer a luz dos Guias e Mentores de
Aruanda, como nos diz o lindo hino. O umbandista deve refletir a "luz Divina
em todo o seu esplendor".
Foi no lago
de Genesaré, o Mar da Galiléia, que Jesus exortou Pedro a viver uma vida de Fé,
quando o pescador começou a afundar nas águas revoltas. Assim, deve ser todo o
umbandista! O umbandista enfrenta muitas ondas que põem sua fé em jogo, contudo
ele deve abandonar a incredulidade, a ignorância e a falta de confiança nos
Guias para andar pela fé sobre as águas escuras da vida cotidiana.
Foi na
Galiléia também, ainda no Grande Mar, que Jesus ensinou os discípulos a serem
grandes pescadores.
Como
seguidores do Mestre Jesus, os umbandistas precisam aprender a ser também
pescadores de almas. Não para encher os templos e terreiros com cegos
dizimistas ou fanáticos mandingueiros, mas para levar as criaturas humanas aos
campos luminosos de Aruanda. As almas perdidas serão tiradas do grande mar que
é a vida sem Deus, e serão depositadas nos braços dos sagrados Orixás para
servirem de alimento aos outros que ainda não encontraram o caminho da Luz.
Todos esses
ensinamentos, e muito mais ainda, o Mestre Jesus deu aos discípulos.
Jesus não
quis transformar os discípulos em apenas imitadores ou repetidores de fórmulas
mágicas. O Mestre não quis que eles somente fizessem os mesmos milagres - como
o mundo classificou - apenas porque aprenderam a fazer igual. Jesus quis
exemplificar, assim como muitos outros grandes mestres da Luz, que os filhos de
fé, e aqui podemos chamar de "umbandistas", precisam servir aos irmãos
numa atividade servil e caridosa de amor ao próximo.
Portanto,
umbandistas, ouçam o que diz o Mestre da Galiléia: "Vem, e
Segue-me!".
Por Julio Cezar Gomes Pinto
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